Com aumento geralmente esperado para esta época do ano, os casos de dengue, zika e chikungunya têm até agora cenário oposto, com queda nos dois primeiros meses de 2017 em comparação ao mesmo período de 2016.
A redução nos casos, em média, já chega a 90%, segundo dados de um novo boletim do Ministério da Saúde, com informações consolidadas até 18 de fevereiro.
Segundo o documento, até essa data, foram registrados 48.177 casos prováveis de dengue no país, contra 475.260 no mesmo período do ano anterior —queda de 89,8%.
Mesma redução é percebida no total de casos registrados de chikungunya e zika, ambas transmitidas pelo mesmo vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti.
Até o dia 18 de fevereiro, foram 1.653 casos registrados de zika, contra 71.553 no mesmo período do ano anterior —queda de 97,6%. Já os casos de chikungunya, tidos ainda como principal ameaça para este verão e os próximos meses, também registram redução até o momento, mas menor: para estes, foi de 76,3%. Em 2017, já são 10.294 casos da doença, contra 43.567 no mesmo intervalo do último ano.
Para o infectologista Marcos Boulos, da Coordenadoria de Controle de Doenças do Estado de São Paulo, vários fatores explicam essa diminuição, que ocorre na contramão do cenário esperado para o período —em geral, o aumento nos registros de dengue, zika e chikungunya já começa a ser percebido em dezembro e janeiro.
Além de passar por uma epidemia forte de dengue nos últimos anos, o que pode sinalizar trégua devido ao menor número de pessoas suscetíveis, o alerta emitido no ano passado para a zika, e que levou à maior articulação nacional contra o Aedes aegypti, ajudou a diminuir a incidência do mosquito no país.
“Quando não se quer uma epidemia no verão, tem que trabalhar no inverno. Começamos o verão com situação muito adequada neste ano. Tivemos uma redução muito grande de Aedes, e as doenças acompanharam isso”, diz.
Segundo o coordenador, apesar da queda, ainda há risco de aumento de casos, mas em ritmo menor. “Estamos tendo nos últimos dois meses um aumento do Aedes outra vez. Mas como está terminando o verão, isso não vai ser suficiente para que tenhamos uma epidemia importante neste ano”, completa ele, que ainda reforça a necessidade de que as ações de prevenção sejam mantidas.
O risco de aumento também é apontado pelo infectologista e professor da Unesp Carlos Magno Fortaleza. “Ainda pode vir a ocorrer um aumento, embora haja indicadores epidemiológicos que sugerem que quando a epidemia vai ter um pico muito alto, ela começa bem precoce.
No entanto, já aconteceu de os dois primeiros meses do ano terem número pequeno de casos, e depois explodirem em epidemias tardias.” Para ele, como o período de comparação adotado no boletim é curto, ainda é cedo para avaliar o cenário. “Precisamos observar mais para dizer que esse ano está melhor do que o ano anterior”, afirma.
Uma eventual redução, no entanto, coincide com o aumento de pessoas já afetadas por essas doenças em algumas regiões, diz. “Sabemos que parte da população já foi afetada no ano passado, fazendo com que seja imune ou ao principal sorotipo da dengue em circulação, ou a zika e chikungunya. Isso faz com que esses vírus diminuam sua velocidade de transmissão.” “Mas ainda temos muitas regiões que não foram fortemente afetadas por zika e chikungunya, e não é impossível que tenhamos aumento nessas regiões”, alerta.